Assine o manifesto do MNE BR: 388 anos de Escravidão. E a Igreja com isso?

5/25/20242 min read

"Precisamos revisitar nossa história e construir uma nova narrativa que reconheça o papel do racismo na formação da sociedade brasileira e o compromisso da Igreja com a justiça racial."

Manifesto "Escravidão: E a igreja com isso?"

Nós, pessoas antirracistas evangélicas, através deste documento fazemos um apelo público à igreja protestante e evangélica deste país. Há 136 anos, o povo negro no Brasil recebeu um documento oficial de abandono do Estado brasileiro, depois de 388 anos de sistema escravocrata, os poderosos decidiram abolir a escravidão sem nenhum tipo de reparação para o povo que gerou a riqueza de um dos países mais ricos da atualidade. Mais de 130 anos depois da abolição da escravidão, alguns silêncios permanecem. Apesar dos esforços de estudiosos dedicados a compreender esse período, ainda existe uma demanda historiográfica e informacional que contribui para a manutenção de narrativas únicas que omitem em muito as vozes dos silenciados e violentados que foram a base para a consolidação dessas instituições no Brasil.

Entendemos que a escravidão colonial, foi um dos maiores crimes da história da humanidade e por isso precisamos dizer que é urgente: Reconhecer a escravidão como crime humanitário, incentivar a preservação e resgate da memória da história de comunidades e pessoas negras que foram apagadas, responsabilizar as instituições que lucraram e se beneficiaram do sistema escravocrata e defender a reparação dos povos escravizados como um direito fundamental para conseguirmos construir um país mais justo e igualitário que tem um compromisso radical com a justiça social.

Através deste manifesto afirmamos que a luta contra o legado da escravidão não é somente responsabilidade do povo negro ou indígena, mas sim de todo o país. É um dever ético reconhecer que o debate da escravidão precisa ser de cunho civilizatório, estamos literalmente discutindo que tipo de nação queremos ser, e se todo o sofrimento causado ao povo negro durante séculos continuará sem respostas, ou se iremos assumir um compromisso como povo de tocarmos em uma ferida ainda aberta que se chama: Escravidão.

Nós reconhecemos que o debate sobre memória e verdade para reparação já tem sido levantado desde a Conferência da ONU em Durban em 2001, onde se estabeleceu a importância de políticas e práticas para a ampliação do acesso à memória como passo crucial para alcançarmos políticas de reparação. Importante dizer que pastores, redes e coletivos negros evangélicos já lançaram manifestos que cobravam das igrejas uma posição sobre a escravidão: Em 2003 tivemos o Manifesto do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas, em 2008 tivemos o Manifesto "O perdão, os 120 anos da abolição inacabada e as igrejas históricas", em 2020 tivemos o Manifesto de Negras e Negros Evangélicos e em 2022 tivemos o Manifesto Negro Protestante Brasileiro. Todos estes documentos foram elaborados por pessoas negras evangélicas, em sua maioria lideranças pastorais e teológicas, e de alguma maneira alertavam a igreja brasileira sobre um pecado em que ela historicamente contribuiu e muitas vezes ficou em silêncio.

Nós insistimos de maneira repetida no amor. Acreditamos firmemente que somente o caráter revolucionário do amor pode dar espaço para uma realidade de justiça plena para todas as pessoas. Neste contexto, fazemos um apelo público as igrejas históricas, primeiro por um pedido de perdão oficial ao povo negro brasileiro, e segundo, solicitamos que atuem no sentido de reescrever a história da igreja não só facilitando o acesso aos registros e documentos oficiais das instituições eclesiásticas que já estavam no Brasil naquele período mas trabalhando para que se estabeleça a verdade.

Portanto reiteramos: Irmãs e irmãos, liberem e facilitem o acesso aos seus arquivos da época da escravidão, queremos entender melhor qual era a relação das igrejas protestantes históricas com a escravidão. Queremos saber: E a igreja com isso?

Um chamado à reflexão e ação para a Igreja Evangélica Brasileira

Hoje marcamos 388 anos desde o início da escravidão oficial no Brasil. Uma ferida profunda em nossa história que, mesmo após a assinatura da Lei Áurea, ainda sangra em forma de racismo estrutural, desigualdades sociais e iniquidades.

Mas e a Igreja Evangélica Brasileira? Qual foi seu papel nesse período sombrio?

Onde estava enquanto milhões de pessoas eram sequestradas, açoitadas, estupradas, separadas de suas famílias e vendidas como mercadorias? Será que a assinatura da Lei Áurea foi suficiente para apagar os crimes hediondos cometidos contra o povo negro?

Chegou a hora de olharmos para o passado com honestidade e reconhecermos nossa cumplicidade nesse sistema cruel e desumano.

A narrativa oficial da Igreja muitas vezes ignora ou minimiza o sofrimento do povo negro, perpetuando estereótipos e invisibilizando suas lutas. Mas a verdade é que a fé cristã sempre esteve presente na resistência contra a escravidão, através de líderes como Luiza Mahin, Tereza de Benguela e Henrique Clay.

Precisamos revisitar nossa história e construir uma nova narrativa que reconheça o papel do racismo na formação da sociedade brasileira e o compromisso da Igreja com a justiça racial.

O que podemos fazer?

  • Reflita sobre o papel da Igreja na escravidão e no racismo estrutural.

  • Leia livros e artigos sobre o tema.

  • Converse com pessoas negras sobre suas experiências.

  • Apoie organizações que lutam pela justiça racial.

  • Participe de ações e eventos antirracistas.

  • Assine o manifesto "Escravidão: E a igreja com isso?"

  • Leve a discussão para sua igreja local.

Lembre-se:

  • "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:36). Essa mensagem de Jesus é para todos nós, não apenas para alguns.

  • Uma igreja que compactua com o passado escravagista não é a igreja de Cristo.

  • Chegou a hora de construirmos uma igreja mais justa, igualitária e antirracista.

Junte-se a nós nessa luta!

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