Manifesto Teológico

O documento é um Manifesto Global da Teologia Negra ("Manifesto Teológico") resultante da IV Consulta Internacional de Teologia Negra, realizada em São Paulo, de 18 a 21 de junho de 2025, com a participação de lideranças negras evangélicas do Brasil e representantes de Colômbia, Cuba, África do Sul, Congo, Angola e EUA.

Rudiel, Alexander, Jackson, Brasil, Lisa Sharon Harper, Reneé August, Ronilso Pacheco, Elijah Zehyoue, Gabriela Leite, John Thomas, Vanessa Barbosa e Cleusa Caldeira

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Rudiel, Alexander, Jackson, Brasil, Lisa Sharon Harper, Reneé August, Ronilso Pacheco, Elijah Zehyoue, Gabriela Leite, John Thomas, Vanessa Barbosa e Cleusa Caldeira.

Manifesto Global da Teologia Negra. [ Português]

...eis aqui uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas (Apocalipse 7:9b)

Nós, lideranças negras evangélicas do Brasil e representantes da Colômbia, Cuba, África do Sul, Congo, Angola e EUA, reunidas na IV Consulta Internacional de Teologia Negra, realizada entre os dias 18 e 21 de junho de 2025, na cidade de São Paulo, tornamos público este Manifesto.

Partimos da especificidade da experiência africana e afrodiaspórica, atravessada pela historicidade do colonialismo, da escravização, do racismo e da exclusão social. Neste contexto emerge a Teologia Negra como voz profética, denunciando essas injustiças e anunciando caminhos de libertação e esperança para os povos. Iluminadas e iluminados pela fé no Cristo Negro, rejeitamos as interpretações racistas da Bíblia e reafirmamos que a negritude reflete a imagem e semelhança de Deus.

Vivemos um tempo em que as estruturas coloniais e racistas continuam a reproduzir violências sistêmicas contra os povos. O genocídio interétnico, as políticas de limpeza étnica, a exclusão econômica e social, e a violência policial, que no Brasil mata 62 jovens negros por dia, na Colômbia jovens negros são executados por grupos paramilitares, entre outras, são expressões concretas dessa opressão. Seguindo o exemplo da coragem da África do Sul que expôs o genocídio da Palestina, denunciamos as guerras no Sudão, no Congo, na Nigéria, fomentadas por nacionalismos extremistas, que refletem uma lógica de dominação e exclusão que também se manifesta nas realidades locais de muitos países.

Com este Manifesto, nos dirigimos a todos os governantes para que assumam a responsabilidade de construir sociedades democráticas e, sobretudo, respeitem a autodeterminação dos povos africanos e indígenas. Como parte deste compromisso político, exigimos justiça reparativa como caminhos para a cura e a reconstrução da dignidade humana, pois não existe paz sem justiça.

Nosso desafio é responder à pergunta: Onde está Deus? Estaria Deus nos escombros das guerras? Estaria Deus nas gaiolas que prendem os refugiados? Estaria Deus nos corpos violentados? Estaria Deus no pranto inconsolável das mães negras, pois seus filhos seus já não existem mais? O Deus da Bíblia é aquele que se posiciona ao lado dos oprimidos de todos os tempos e em suas diversas identidades, incluindo raça, gênero, sexualidade e classe. A missão da comunidade de fé é tornar-se espaço de acolhimento e amor como compromisso da superação das múltiplas opressões que afetam, especialmente, as mulheres negras e pessoas LGBTI+. Movidas pela divindade, mulheres negras têm respondido de formas poderosas, como, por exemplo, por meio da Teologia Feminista Negra e Teologia Mulherista.

Neste horizonte, este Manifesto dirige-se às vítimas sistêmicas, conclamando-as a insurgir-se em esperança e criatividade para fomentar a cultura do bem-viver. Nós, povos africanos e afrodiaspóricos, seguiremos valorizando a negritude como dom e resistência, celebrando a beleza das culturas e espiritualidades negras como fonte de vida, força e renovação. Inspiradas e inspirados pelo legado de nossa ancestralidade, desejamos permanecer como um sopro de esperança e um farol de justiça, promovendo o Reino de Deus na terra.

Global Manifesto of Black Theology. [ENGLISH]

...behold, a great multitude that no one could count, from every nation, tribe, people, and language (Revelation 7:9b)

We, Black evangelical leaders from Brazil and representatives from Colombia, Cuba, South Africa, Congo, Angola, and the USA, gathered at the 4th International Consultation on Black Theology, held from June 18 to 21, 2025, in the city of São Paulo, hereby make this Manifesto public.

We start from the specificity of the African and Afro-diasporic experience, shaped by the historicity of colonialism, slavery, racism, and social exclusion. In this context, Black Theology emerges as a prophetic voice, denouncing these injustices and announcing paths of liberation and hope for the peoples. Enlightened by faith in the Black Christ, we reject racist interpretations of the Bible and reaffirm that Blackness reflects the image and likeness of God.

We live in a time when colonial and racist structures continue to reproduce systemic violence against peoples. Interethnic genocide, ethnic cleansing policies, economic and social exclusion, and police violence—which in Brazil kills 62 Black youth per day, and in Colombia Black youth are executed by paramilitary groups, among others—are concrete expressions of this oppression. Following the courageous example of South Africa exposing the genocide in Palestine, we denounce the wars in Sudan, Congo, and Nigeria, fueled by extremist nationalisms that reflect a logic of domination and exclusion also manifested in the local realities of many countries.

Through this Manifesto, we call upon all governments to take responsibility for building democratic societies and, above all, to respect the self-determination of African and Indigenous peoples. As part of this political commitment, we demand reparative justice as paths toward healing and the reconstruction of human dignity, for there is no peace without justice.

Our challenge is to answer the question: Where is God? Is God in the ruins of wars? Is God in the cages that hold refugees? Is God in the violated bodies? Is God in the inconsolable weeping of Black mothers whose children no longer exist? The God of the Bible is the one who stands alongside the oppressed of all times and in their diverse identities, including race, gender, sexuality, and class. The mission of the faith community is to become a space of welcome and love as a commitment to overcoming the multiple oppressions that especially affect Black women and LGBTI+ people. Moved by divinity, Black women have responded powerfully, for example, through Black Feminist Theology and Womanist Theology.

In this horizon, this Manifesto calls on systemic victims to rise up in hope and creativity to foster a culture of well-being. We, African and Afro-diasporic peoples, will continue valuing Blackness as a gift and resistance, celebrating the beauty of Black cultures and spiritualities as sources of life, strength, and renewal. Inspired by the legacy of our ancestry, we wish to remain a breath of hope and a beacon of justice, promoting the Kingdom of God on earth.

Manifiesto Global de la Teología Negra. [ESPAÑOL]

...he aquí una gran multitud que nadie podía contar, de todas las naciones, tribus, pueblos y lenguas (Apocalipsis 7:9b)

Nosotros, líderes negros evangélicos de Brasil y representantes de Colombia, Cuba, Sudáfrica, Congo, Angola y Estados Unidos, reunidos en la IV Consulta Internacional de Teología Negra, realizada entre los días 18 y 21 de junio de 2025, en la ciudad de São Paulo, hacemos público este Manifiesto.

Partimos de la especificidad de la experiencia africana y afrodiaspórica, atravesada por la historicidad del colonialismo, la esclavitud, el racismo y la exclusión social. En este contexto, emerge la Teología Negra como voz profética que denuncia estas injusticias y anuncia caminos de liberación y esperanza para los pueblos. Iluminados por la fe en el Cristo Negro, rechazamos las interpretaciones racistas de la Biblia y reafirmamos que la negritud refleja la imagen y semejanza de Dios.

Vivimos un tiempo en que las estructuras coloniales y racistas continúan reproduciendo violencias sistémicas contra los pueblos. El genocidio interétnico, las políticas de limpieza étnica, la exclusión económica y social, y la violencia policial —que en Brasil mata a 62 jóvenes negros por día, y en Colombia jóvenes negros son ejecutados por grupos paramilitares, entre otros— son expresiones concretas de esta opresión. Siguiendo el ejemplo valiente de Sudáfrica que expuso el genocidio en Palestina, denunciamos las guerras en Sudán, Congo y Nigeria, fomentadas por nacionalismos extremistas, que reflejan una lógica de dominación y exclusión que también se manifiesta en las realidades locales de muchos países.

A través de este Manifiesto, hacemos un llamado a todos los gobiernos para que asuman la responsabilidad de construir sociedades democráticas y, sobre todo, respeten la autodeterminación de los pueblos africanos e indígenas. Como parte de este compromiso político, exigimos justicia reparativa como caminos para la sanación y la reconstrucción de la dignidad humana, pues no existe paz sin justicia.

Nuestro desafío es responder a la pregunta: ¿Dónde está Dios? ¿Estaría Dios en los escombros de las guerras? ¿Estaría Dios en las jaulas que aprisionan a los refugiados? ¿Estaría Dios en los cuerpos violentados? ¿Estaría Dios en el llanto inconsolable de las madres negras, pues sus hijos ya no existen? El Dios de la Biblia es aquel que se posiciona al lado de los oprimidos de todos los tiempos y en sus diversas identidades, incluyendo raza, género, sexualidad y clase. La misión de la comunidad de fe es convertirse en un espacio de acogida y amor como compromiso para superar las múltiples opresiones que afectan, especialmente, a las mujeres negras y a las personas LGBTI+. Movidas por la divinidad, las mujeres negras han respondido de formas poderosas, como, por ejemplo, a través de la Teología Feminista Negra y la Teología Mujerista.

En este horizonte, este Manifiesto se dirige a las víctimas sistémicas, convocándolas a insurgir con esperanza y creatividad para fomentar la cultura del buen vivir. Nosotros, pueblos africanos y afrodiaspóricos, seguiremos valorando la negritud como don y resistencia, celebrando la belleza de las culturas y espiritualidades negras como fuente de vida, fuerza y renovación. Inspirados por el legado de nuestra ancestralidad, deseamos permanecer como un soplo de esperanza y un faro de justicia, promoviendo el Reino de Dios en la tierra.