O MNE Brasil lança campanha exigindo que as Igrejas Protestantes abram seus arquivos da época da escravidão.
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"Precisamos revisitar nossa história e construir uma nova narrativa que reconheça o papel do racismo na formação da sociedade brasileira e o compromisso da Igreja com a justiça racial." Rafah Moreira.
O Movimento Negro Evangélico lança campanha exigindo que as Igrejas Protestantes abram seus arquivos da época da escravidão. Manifesto da campanha tem uma série de apelos e exigências às igrejas que já estavam no Brasil na época do sistema escravocrata.
A campanha "Escravidão: E a igreja com isso" foi pensada pelo Movimento Negro Evangélico para mobilizar a igreja e a sociedade brasileira, no sentido de sensibilizar as igrejas protestantes históricas e abrir uma ampla discussão sobre a responsabilidade e papel da igreja diante desse período histórico. O lançamento ocorreu no 13 de maio, pois é neste período que de maneira crítica a maioria do movimento negro debate sobre o processo de escravidão no Brasil e a dívida que o país tem com o povo negro. Geralmente ao discutir o papel da igreja, é normal mencionar a Igreja Católica como uma das principais promotoras do sistema escravocrata, há poucas análises críticas sobre a atuação da igreja protestante, que se estabeleceu no Brasil no século XIX.
O manifesto da campanha traz exigências contundentes como "um apelo público as igrejas históricas, primeiro por um pedido de perdão oficial ao povo negro brasileiro, e segundo, solicitamos que atuem no sentido de rescrever a história da igreja não só facilitando o acesso aos registros e documentos oficiais das instituições eclesiásticas que já estavam no Brasil naquele período mas trabalhando para que se estabeleça a verdade", diz o documento. Segundo a organização da campanha o apelo está direcionado às denominações que chegaram aqui até 1888 que são: Igreja Presbiteriana do Brasil, Convenção Batista Brasileira, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Metodista do Brasil e Igreja Episcoal Anglicana do Brasil. O manifesto pode ser assinado aqui neste link.
Para entender o Brasil da atualidade e a igreja protestante, é essencial compreender sua história e seu passado em sua totalidade, sem ignorar períodos. A teóloga Aline Martinells e coordenadora nacional do Movimento Negro Evagélico ressalta que “o racismo é um pecado que desafia a glória de Deus, e a igreja protestante deve denunciá-lo e criticar a si mesma.” Por esse motivo precisamos revisitar nossa história urgentemente.
O teólogo Leonardo Mariano, autor de "Alvo mais que a neve?", destaca a urgência em confrontar as contradições das instituições religiosas e reafirmar o compromisso com a igualdade e justiça, ele afirma: "No contexto dos 388 anos de escravidão no Brasil, é crucial examinar de perto o papel desempenhado pela igreja ao longo desse período sombrio da história do país. Enquanto algumas lideranças protestantes se destacaram na luta pela abolição e na promoção dos direitos humanos dos escravizados, muitas instituições protestantes foram omissas ou coniventes com o sistema escravocrata, chegando até mesmo a justificá-lo teologicamente".
A campanha surge com uma grande mensagem: É preciso dar outro passo e ir além! Embora haja algumas informações contundentes sobre a participação protestante no período escravocrata, a falta de informações mais profundas sobre a atuação do protestantismo durante a escravidão é urgente, ainda não temos dados suficientes, não sabemos o tamanho da contribuição evangélica neste processo, e também o tamanho da dívida institucional das igrejas para com o povo negro.
A campanha "388 Anos de Escravidão: E a Igreja com Isso?" surge para debater essa lacuna histórica, por isso para a pastora da Igreja Quadrangular, Patrícia Gonçalves precisamos “resgatar o Evangelho de Cristo que foi capturado pelo sistema escravocrata”. A campanha tem como uma das principais ações uma semana nacional de discussão sobre Igreja, Memória e Escravidão, que vai ocorrer entre os dias 28 e 30 de junho, e as ações estão sendo abertas para as igrejas e organizações que queiram realizar essa iniciativa, as inscrições estão abertas, só clicar aqui.
Assessoria Movimento Negro Evangélico do Brasil