SOMOS O MOVIMENTO NEGRO EVANGÉLICO DO BRASIL.

O Movimento Negro Evangélico do Brasil (MNE) surgiu em 2003, quando o Fórum de Lideranças Negras Evangélicas lançou um manifesto no II Congresso Brasileiro de Evangelização exigindo o fim da omissão da Igreja evangélica brasileira e a quebra do silêncio dos púlpitos sobre o legado da escravidão negra. Nos primeiros anos, o MNE foi uma rede de organizações, lideranças pastorais e eclesiásticas que enfrentavam o racismo tanto dentro quanto fora da igreja. O movimento tinha um fórum de lideranças negras evangélicas que funcionava para dirigir o Movimento, e a Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil surge como um dispositivo institucional para uma melhor estruturação, mas que durou até meados de 2014 como essa instituição ligada diretamente o Movimento.

O MNE realizou sua primeira conferência nacional em 2014, com o tema “Negritude e Evangélicos: Reflexão, resistência e engajamento”, que contou com a participação de John Perkins, um dos maiores ativistas da história dos Estados Unidos, foi um dos líderes do Movimento dos direitos civis. A chegada da Década Internacional de Afrodescendentes da ONU impulsionou o crescimento do MNE. Em 2017, surgiu o primeiro núcleo estadual, permitindo uma atuação mais efetiva nos territórios. O Movimento Negro Evangélico do Brasil se entende fruto da luta das negras e dos negros evangélicos que fazem parte da história do movimento negro brasileiro, somos frutos da luta antirracista no país. Por isso, compreender o crescimento dos evangélicos no Brasil, considerando que 59% dos evangélicos são negros segundo o DataFolha de 2019, parte da comunidade negra protestante, é recomendável se organizar para debater como a religião pode contribuir com a emancipação dos negros na luta antirracista, através de uma agenda de promoção dos direitos humanos, da democracia e do estado laico, combatendo assim uma cultura de violência e intolerância que sustentam o racismo. Nosso objetivo é fazer a disputa de narrativa da fé a partir da realidade das pessoas negras evangélicas, formando um grupo social comprometido com a justiça e a equidade racial. Além disso, produzir uma prática político-teológica que abrace o povo negro e sua ancestralidade, denunciando qualquer forma de racismo, sobretudo religioso.

Contexto social e religioso.

Estamos em um cenário de retrocessos políticos e civis, onde o povo evangélico é constantemente instrumentalizado. É imprescindível um espaço que repense e construa processos de transformação e acolhimento social após anos de esgarçamento político e divisão do povo negro e evangélico. O Movimento Negro Evangélico do Brasil, fruto da luta das negras e dos negros evangélicos, busca resgatar sua história e pensar no futuro.

Compreender o crescimento dos evangélicos no Brasil, considerando que 59% dos evangélicos são negros, segundo o DataFolha de 2019, é fundamental para fortalecer a luta antirracista e a emancipação dos negros, promovendo direitos humanos, democracia e o estado laico, combatendo a cultura de violência e intolerância que sustentam o racismo.

Nos últimos anos, o aumento do fundamentalismo político no Brasil agravou a violência. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2023, houve um aumento de 0,9% na taxa de pessoas privadas de liberdade, majoritariamente jovens e negros. Em 2022, 83% das vítimas de mortes causadas pela polícia eram negras. As mulheres negras também sofrem violência intensificada, representando 61,1% dos casos de feminicídio e mais da metade dos casos de estupro.

O uso político dos púlpitos esgarçou comunidades de fé, gerando rompimentos. Após as eleições, é crucial reerguer as narrativas de comunhão e paz e discutir o impacto das mudanças climáticas dentro das igrejas evangélicas.

A igreja evangélica tem crescido nas periferias, preenchendo vácuos deixados pelo estado e lidando com a precariedade urbana e o racismo ambiental. Esses espaços têm sido fundamentais na resposta emergencial a desastres socioambientais. No entanto, a dimensão política do racismo ambiental ainda não é amplamente reconhecida.

A teologia negra, que visa contextualizar a fé cristã nas realidades da população negra, enfrenta desafios para se estabelecer no Brasil. O Movimento Negro Evangélico tem um papel crucial nesse sentido, promovendo debates e ações que visam incorporar a teologia negra nas igrejas, reforçando a importância de uma perspectiva que aborde diretamente as questões de racismo e desigualdade. Esta integração é essencial para criar uma compreensão mais profunda das lutas sociais dentro da comunidade evangélica, tornando a fé um instrumento de emancipação e justiça social.

Mobilizar a igreja brasileira para compreender o caráter político das catástrofes e a emergência climática é urgente. Essa mobilização deve considerar as desigualdades e o racismo, sobretudo o ambiental, para promover uma proteção social eficaz nas periferias do Brasil. O Movimento Negro Evangélico está na vanguarda dessa luta, buscando integrar a teologia negra como um instrumento vital para a transformação social, fortalecendo a resistência contra as injustiças e promovendo uma dignidade para todos.

  • Desafios e perspectivas do MNE Brasil:

    • Combate ao racismo estrutural nas igrejas e na sociedade.

    • Promoção da igualdade racial e da justiça social.

    • Fortalecimento da identidade negra evangélica.

  • Estrutura e Organização nacional, regional e local.

O Movimento Negro Evangélico (MNE) tem uma coordenação nacional que possui duas representações de cada núcleo estadual, esta coordenação atualmente é 60% formada por mulheres. Temos 10 núcleos ativos e representantes em 4 regiões do país: Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Distrito Federal e Sergipe. Cada núcleo possui autonomia de atuação de acordo com os nossos valores, missão e visão, em total alinhamento com a coordenação nacional.

  • Programa Martin Luther King de Formação e Articulação Política.

O Programa Martin Luther King de Formação e Articulação Política é uma iniciativa do Movimento Negro Evangélico do Brasil (MNE) que visa construir uma agenda a partir da promoção da justiça social e dos direitos civis através da formação e articulação política de lideranças negras evangélicas. O programa busca capacitar e empoderar líderes para que possam enfrentar e combater as desigualdades e injustiças em suas comunidades. Inspirado no Reverendo King, uma das maiores lideranças do movimento pelos direitos civis e pastor batista que atuou durante a segregação racial nos Estados Unidos. Seu legado nos move para a luta por justiça social e equidade racial dentro das comunidades evangélicas. O Programa surgiu como uma resposta organizada das lideranças negras evangélicas ao crescente fundamentalismo religioso e aos retrocessos políticos e sociais que ameaçam a democracia e os direitos humanos no Brasil. Temos como meta durar até 2026, sendo uma ferramenta fundamental para nos direcionar para os próximos anos, com atividades contínuas de formação, articulação e incidência pública ao longo deste período.

  • Grupos de trabalho e áreas de atuação.

O Movimento Negro Evangélico tem atuado em quatro áreas sociais: Formação socioeducativa, controle social, enfrentamento ao racismo e assistência. Nos eixos temáticos a nossa incidência política se divide em três eixos temáticos: Justiça climática, memória e reparação, e enfrentamento às violências raciais (institucional, religiosa e de gênero).

Visão geral, missão e valores.

Missão: Ser uma organização de pessoas negras evangélicas que reconheça e desafie ativamente o racismo estrutural, de modo a se levantar contra qualquer forma de opressão histórica que afete a população negra, promovendo a conscientização e a ação para erradicar essas injustiças em nossa sociedade.

Visão: Falar da fé a partir da realidade das pessoas negras, como testemunhas do Jesus negro de Nazaré que habitou entre nós, formando discípulas e discípulos comprometidos com a justiça e a equidade racial. Para produzir uma prática teológica que abrace o povo negro e sua ancestralidade, denunciando qualquer forma de racismo, sobretudo o religioso. Fomentando a construção de uma igreja antirracista.

Valores: Pluralismo de pessoas, antirracismo, reconciliação comprometida com a reparação, respeito e promoção aos direitos humanos, interdenominacionalidade, suprapartidarismo, ecumenismo,